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Recursos Minerais
23 Maio de 2023 | 16h05

AGROMINERAIS POTENCIAM CRESCIMENTO ECONÓMICO E SOCIAL*

Economista Ivan Negro escreveu no jornal Angola Económica

Os agrominerais são rochas e minerais cuja utilização permite melhorar a produtividade e qualidade dos solos.

Tais recursos naturas podem ser aplicados diretamente, sem processamento industrial, salvo quando introduzido na moagem em tamanho fino, na aplicação direta ou indireta do solo, ao fazer-se a extração e concentração de um ou mais destes compósitos, por meio de procedimentos industriais, destinados a produção de fertilizantes convencionais e altamente solúveis.

Há, pois, um vastíssimo potencial para que estes recursos sejam utilizados como amenizantes, aplicados diretamente no solo, bem como remineralizadores do solo no campo da agricultura, desde que estejam livres de contaminantes.

Estamos perante meios que incluem fosfatos sedimentares, calcário/dolomito, potássio e rochas portadoras de glauconita de origem sedimentar, basalto, fonólitos, kamafugitos e rochas máficas ricas em cristais e de origem ígnea, sendo que no campo dos metamórficos, destacam-se o mármore e a biotita xisto.

Por conseguinte, os agrominerais foram formados ao longo de períodos geológicos específicos na história da evolução do planeta Terra, no entanto, não se encontram distribuídos homogeneamente pela superfície terrestre, verificando-se a sua acumulação em maior abundância nalgumas áreas geográficas relativamente a outras, existindo uma relação estreita com as placas tectónicas.

O nosso país, Angola, foi beneficiado com presença dos agrominerais, possuindo "províncias geológicas” de riqueza específica. Os agrominerais, que adquirem uma dimensão económica de enorme relevância, são o nitrogénio, fosfato, o potássio e o nitrogénio, conhecidos pelo acrónimo NPK ("Nitrogen, Phosphorus, and Potassium”).

O território angolano é, na sua essência, composto por "Solos Arídicos Tropicais”, ou seja, são locais evoluídos de "ocorrência normal nos climas secos (árido e semiárido), em que a fracção fina é dominada por argila sialítica, com proporção variável de reserva mineral”.

A agricultura em países com solos ácidos impõe a utilização de agrominerais, sendo que em caso de escassez, também podem ser usados produtos alternativos, isto é, materiais naturais inorgânicos, com alterações físicas suscetíveis de aplicação em solos agrícolas, como o calcário agrícola, a gipsite (gesso mineral), além de certas rochas silicóticas e rochas fosfáticas.

De acordo com o relatório da International Agricultural Trade, denominado: "Impacts and Repercussions of Price Increases on the Global Fertilizer Market”, "o preço dos fertilizantes representa em dólares quase um quinto dos custos agrícolas, com exposição superior para os produtores de milho e trigo, isto é 36% dos custos operacionais na cultura de milho e 35% para o trigo”. No mesmo documento, constata-se que agregados, China, Rússia, Estados Unidos, Índia e Canadá produzem mais de 60% dos fertilizantes à escala global.

Embora, Moscovo e Washington DC representem individualmente menos de 10%, Beijing processa, aproximadamente, 25%. O grau de concentração nesta cadeia de valor aumenta quando se restringe (apenas) para o NPK, constatando-se que dez países produzem 71%, 86% e 95% dos fertilizantes N, P e K, respectivamente.

A capacidade mundial é traduzida da seguinte forma: a China produz mais de um terço do fósforo do mundo, seguida pelos Estados Unidos, Índia, Marrocos e Rússia, respetivamente. Combinados, estas cinco nações representam mais de três quartos da oferta global de fósforo.

A produção de potássio está mais concentrada, pois três terços são fornecido por três países: Canadá, Rússia e Bielorrússia. O Canadá representa, aproximadamente, um terço da oferta global, enquanto a Rússia e a Bielorrússia juntas, processam o remanescente.

Cinco países ou regiões exportam mais de 60% de todos os fertilizantes – Rússia, Canadá, União Europeia, China e Bielorrússia. De igual modo, cinco nações ou regiões exportam aproximadamente 60% dos fertilizantes nitrogenados – União Europeia, China, Rússia, Qatar e Arábia Saudita, e, novamente, cinco países ou regiões exportam mais de 75% dos fertilizantes com fósforo – China, Rússia, União Europeia, Marrocos e Estados Unidos.

Reparemos que uma vez mais, cinco Estados ou regiões exportam mais de 90% dos fertilizantes potássicos – Canadá, Rússia, Bielorrússia, Marrocos e Estados Unidos.

A Rússia e a Bielorrússia representam quase 25% da participação no mercado global na exportação de todos os fertilizantes. Somados, fornecem mais de um terço das exportações mundiais de potássio. O Canadá é o maior exportador de fertilizantes de potássio, representando aproximadamente 35% de todas as exportações. Embora sejam grandes produtores, Brasil, Canadá e México importam, na perspetiva individual, mais de 60% dos fertilizantes consumidos.

Os Estados Unidos importam quase 20% de toda a sua componente de fertilizantes. Em comparação, por hectare, a África Subsaariana usa apenas 7% do total de fertilizantes utilizados nos Estados Unidos e 5% do consumido pela China.

A Rússia e a Bielorrússia desempenham papéis críticos no mercado global de fertilizantes, representando quase 20% das exportações globais. México e Brasil importam mais de 25% da Rússia e Bielorrússia. Os Estados Unidos obtêm 14% das suas necessidades de fertilizantes da Rússia e 3% da Bielorrússia.

A Rússia é responsável por cerca de 16% das exportações mundiais de ureia.   A UE depende das importações para 30%, 68% e 85% do seu consumo de azoto inorgânico, fosfatos e nutrientes de potássio, respetivamente.

Quando ocorreu a subida estratosférica do preço do gás, este hidrocarboneto passou a representar 90% do custo variável de produção dos fertilizantes com azoto, resultando num aumento de 149 % no preço destes produtos para os agricultores da EU, isto em setembro de 2022, relativamente ao período transato. O preço dos adubos extraídos sofreu de modo similar um incremento de 63% e 90%, respetivamente, durante o mesmo período. Os preços dos fertilizantes subiram quase 30% desde o início de 2022, após o aumento de 80% do ano passado.

Dado o acima exposto, Angola pode aprovar numa estratégia para o desenvolvimento de um cluster agromineral consubstanciada num programa de mineração e desenvolvimento convergente com uma Estratégia Nacional para os Fertilizantes, que fortaleça o Plano Nacional de Grãos, entre 2025 e 2050 e assim também nasça um hub, assente nos seguintes pontos:  

1) Construção de fábricas de fertilizantes;

2) Melhoria do ambiente de negócios com objectivo de atrair investimentos para o setor;

3) Promoção de vantagens competitivas para Angola;

4) Apostar em infraestrutura de mobilidade e de capacidade como polos logísticos;

5) Desenvolver o agronegócio local.  

Até 2050, Angola deve procurar atingir as seguintes metas:

1) Adquirir capacidade para produzir nitrogênio;

2) Adquirir capacidade para produzir fosfato;

3) Adquirir capacidade para produzir óxido de potássio;

4) Viabilizar a criação de, pelo menos, quatro empresas regionais produtoras de NPL, divididas por 5 diferentes regiões portuárias, como Cabinda, Luanda, Cuanza – Sul, Namibe, Benguela, municiando a cintura industrial (Huíla e Huambo), aproveitando o ramal ferroviário;

5) Estruturação do Agrobank para o agribusiness (um banco com foco e exclusividade na agricultura e pecuária) e de um Mineralbank para o mineralbusiness (foco e exclusividade nos recursos minerais);

6) Criação de um Centro de Excelência de Negócios para os minerais, agricultura e pecuária (CEA);

7) Atrair um valor mínimo de USD 2 biliões em investimentos nos próximos 3 anos, para a construção de fábricas de fertilizantes nitrogenados.  

Para tal, Angola, uma nação para a qual Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento económico de aproximadamente 4% para 2023 e 2024, regista em Março uma taxa de inflação fixa de 10.8%, consolidando o décimo quarto mês consecutivo de redução, existindo enormes desigualdades socioeconómicas (mais de 40% da população é paupérrima), para o nosso país é fundamental estabelecer parcerias sólidas com aliados históricos.  

Entre os países que compõe a CPLP e os BRICS, destaca-se o Brasil, que é um colosso no agronegócio (28% do PIB desta nação em 2022, cifrado em USD 500 biliões, o equivalente ao PIB da Argentina, a segunda maior economia da América Latina provém do sector, tal e qual 20,3% dos potos de trabalho) só em produtos agropecuários, exporta, aproximadamente USD 100,7 biliões, ou seja, o PIB de Angola e RDC – , ultrapassado apenas pela União Europeia, EUA e China – vide: "TOP 10 de riscos e oportunidades para o Agronegócio no Cone Sul, Ernst & Young”).

O Brasil é também o quarto maior produtor mundial de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo), superado apenas pela China, Estados Unidos e Índia, sendo responsável por 7,8% da produção total mundial, e, por fim, apresenta-se como o segundo maior exportador de grãos do mundo, com 19%, cifrando a sua actividade comercial no ano de 2020 em USD 37 biliões.

 
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Texto de Ivan Negro - Economista
Fonte: Angola Económica
*Título ligeiramente modificado



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