• Opep+ Quer Prevenir-Se Da Recessão Económica


    Os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderada pela Arábia Saudita, e os seus dez parceiros, com a Rússia à cabeça, concordaram quarta-feira, 5, com uma redução da produção em 2 milhões de barris por dia para o mês de Novembro, de acordo com comunicado saído da reunião de Viena. Esse conjunto de países forma a designada OPEP+, constituída a partir de 2016.

    Como consequência dessa medida, os contratos de entrega para Novembro registaram, no mesmo dia, subidas significativas, com o petróleo tipo Brent a situar-se em 4 por cento (fixando-se em 96.74 dólares) e o WTI - West Texas Intermediate - a avançar 3,71 por cento e a cotar-se em 90,09 dólares.

    Para os especialistas, com essa medida, a OPEP+ está a antecipar-se a uma possível recessão (baixa da produção e do consumo) da economia mundial, hipótese de que já se fala muito - e as previsões apontam para esse caminho -, que se traduziria também numa diminuição da procura de petróleo. Essa redução de 2 milhões de barris por dia - sustentam - visa evitar um possível acúmulo de stocks e, diante de uma situação de maior oferta do que procura, baixos preços do petróleo.

    Neste momento, a maior parte das principais economias mundiais está com um crescimento negativo (-0.6%), devido, em particular, aos efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que originou uma crise energética na Europa e consequente aumento dos preços e da inflação. Este anúncio da redução da produção pela OPEP+ contraria as expectativas dos Estados Unidos e da União Europeia. Em Julho, o Presidente Joe Biden esteve em Riad, na Arábia Saudita, tendo levado como preocupação fundamental a necessidade de um aumento da produção de crude, por parte do reino saudita, e a manutenção de preços baixos. Isso ajudaria duplamente: conter o aumento dos preços, que estão a corroer o poder de compra dos consumidores nos Estados Unidos e na Zona Euro, por um lado, e, por outro, Moscovo veria diminuir a entrada de receitas e, por arrasto, a capacidade de fazer face ao esforço de guerra.

    Paralelamente, é preciso dizer que, devido à guerra e às sanções decretadas à Rússia, o dólar viu a sua posição no mercado internacional reforçar-se, como resultado, também, da política monetária norte-americana de elevar os rendimentos dos Títulos do Tesouro. O terreno das taxas de câmbio é, assim, outro sobre o qual se reflecte a presente disputa de interesses geopolíticos em torno do conflito na Ucrânia. A valorização substancial do dólar face às demais moedas está a colocar o desafio de ajustamentos, para evitar que se afundem: a Rússia decidiu, em tempo oportuno, aumentar as taxas de juro e obrigar os pagamentos em rublos. A China tomou medidas agressivas em defesa do yuan, aplicando uma taxa de câmbio mais valorizada, para salvaguardá-lo, com o banco central a vender parte das reservas de dólares e euros para resgatar a moeda.

    Em relação ao dólar, o Euro vale hoje menos do que valia antes do início da guerra. O banco central europeu está, igualmente, a jogar com o aumento das taxas de juro. Há um repasse da inflação que a decisão dos países da OPEP+, de reduzir a produção em 2 milhões de barris de petróleo, pretende amortecer, através da manutenção dos preços do ouro negro em níveis que permitam as suas economias continuar a projectar crescimento positivo.

    Embora se avente a hipótese de os Estados Unidos poderem recorrer à sua reserva estratégica, para colocar petróleo no mercado, de modo a obrigar a uma baixa dos preços, questiona-se por quanto tempo poderá fazê-lo. Sendo provável que tal possa ocorrer no Inverno, será, ainda assim, um evento episódico, como foram os anteriores.

    Com a pandemia da Covid-19, que quase paralisou a economia mundial, a OPEP+ foi forçada a realizar, em 2020, cortes na produção na ordem dos dez milhões de barris por dia. O colapso da demanda resultou em avultados prejuízos para os países exportadores, com custos de manutenção sem retorno, o fecho de explorações, o desemprego, etc.

    O fim da pandemia significou a retoma da produção e a recuperação de perdas registadas. O início da guerra na Ucrânia fez subir o preço para níveis acima dos 110 dólares. Se a guerra foi um factor que impulsionou os preços, agora, com as medidas restritivas no âmbito do comércio entre as partes beligerantes, o que vemos é uma desaceleração do crescimento económico mundial, que vai manter-se enquanto perdurar o conflito.

    Atenta à situação, em Setembro, a OPEP+ baixou ligeiramente a produção em 100 mil barris por dia e afirmou-se, na altura, disposta a fazer mais. Recusando qualquer outra interpretação que não tenha a ver com a forma como o mercado aconselha que a organização se deve posicionar, o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Souhali ben Mohammed Al-Mazzouei, disse que a decisão tomada quarta-feira é tão somente "técnica, não mistura questões políticas”. A nível internacional e do ponto de vista económico, é uma das mais importantes decisões tomadas nos últimos três meses.

    Fonte: Jornal de Angola, Filomeno Manaças.