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Recursos Minerais
16 Agosto de 2023 | 18h08

OS AGROMINERAIS NA VANGUARDA DE UMA NOVA ERA AGRÍCOLA NO PAÍS

Artigo de opinião de Filomeno Manaças.

O Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás quer estar na vanguarda das transformações profundas que o sector primário da economia angolana precisa de conhecer e, por isso, realizou, terça-feira, nas suas instalações, um workshop concorrido sob o lema "Agrominerais: o caminho para a sustentabilidade agrícola”. 

Agrominerais são os também chamados insumos, ingredientes que são extraídos na mineração e utilizados para potenciar o aumento da produção e a produtividade na agricultura. Dois dos principais são o fosfato e o potássio, que, junto com o nitrogênio, constituem o fertilizante NPK, amplamente empregue na actividade agrícola. 

Não são, porém, os únicos. O calcário e o gesso, utilizados na correcção dos solos, nomeadamente no seu nível de acidez e nas propriedades físicas, químicas e actividade biológica, juntam-se ao NPK e a todo um conjunto de outros agrominerais que o avanço da tecnologia permite hoje obter, como a amônia, a ureia, entre outros. 

Não foi o primeiro workshop do género organizado pelo Ministério. Entretanto, este, ganha particular relevância por uma série de razões. A primeira é que ele acontece algumas semanas depois de o Executivo ter lançado mão de um pacote de medidas de emergência de estímulo à economia e de dinamização do seu potencial. 

A segunda razão prende-se com o facto de, do mapeamento feito do território nacional faz algum tempo, ter resultado a localização das principais ocorrências de agrominerais com potencial de exploração e, sobretudo, haver já empresas empenhadas no processo de produção, com resultados de campo notoriamente promissores. A terceira, podemos descobrir nas palavras de José Carlos Polidoro, pesquisador do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, o qual sublinhou que Angola precisa de definir/estabelecer uma política de fertilizantes e calcário agrícola. 

De facto, foi várias vezes realçado o facto de que o país possui vastas terras aráveis (55 milhões de hecatres), mas que é preciso proceder à correcção dos solos e à sua fertilização para se poder obter o aumento da produção e da produtividade. A quarta, e que ficou evidente, é que algumas instituições financeiras precisam de ajustar a sua política creditícia em relação aos agrominerais e ao sector agrícola, para responder ao imperativo de segurança nacional que está subjacente nos esforços para se alcançar e garantir a soberania e segurança alimentar. 

Aqui, abro um parêntesis para a fala do ministro Diamantino Azevedo, já quase ao cair do pano sobre o evento, que foi praticamente uma campanha de mobilização dos bancos para investirem nas empresas que se dedicam à produção de agrominerais. Fazendo recurso à pedagogia, Diamantino Azevedo lembrou que a maior parte dos bancos nasceram/foram constituídos com receitas obtidas com base na produção mineral, com realce para os rendimentos petrolíferos. Por isso, apelou-os a "regressarem às origens”. 

"Invistam nos agrominerais. São boas pessoas, são bons rapazes” - disse, com uma pitada de humor, sugerindo que os financiamentos sejam concedidos com um maior período de carência e prazos mais longos de amortização/reembolso. Das intervenções dos bancários, no início, na abordagem do tema "Financiamento, Investimento, Ambiente de Negócios e Fiscalidade”, pode perceber-se a disponibilidade das instituições em apoiar. Apoio, porém, sujeito ao rigor da avaliação e dos números a que os economistas estão habituados, nem sempre bem aceite pelo cliente, que vê nessa postura um obstáculo à obtenção de financiamento e arranque efectivo do projecto. 

Do outro lado da moeda, e a legitimar todo o cuidado, estão os créditos malparados, a mentalidade despesista do tomador de crédito (alguns) e o desvio na aplicação do mesmo em relação ao fim para o qual fora requerido. 

É, com efeito, uma realidade que também abunda. A solução pode passar por, em vez de se disponibilizar o volume total de crédito, proceder-se a: 1 - Uma avaliação criteriosa da viabilidade técnica do projecto. 2 - Feita a sua aprovação, parcelar as fases de implementação. 3 - Efectuar-se a libertação faseada e controlada do crédito, na medida da execução do projecto, devidamente seguido por uma equipa de técnicos supervisores responsáveis por fazer o acompanhamento desde o início até à sua entrada em operação. 4 - Submeter o projecto, a partir do momento da entrada em operação, ao acompanhamento da entidade encarregue de controlar os níveis de produção, para efeitos estatísticos e outros. 

A quinta razão é que não há como atingir todos esses objectivos se não se apostar na formação de quadros profissionalmente competentes, na aquisição e transmissão de conhecimentos, levando as instituições de ensino técnico de base, médio e superior a engajarem-se, de modo mais assertivo, a cumprir os seus objectivos, estabelecendo de uma forma mais estreita laços com as empresas de produção e laboratórios de pesquisa. 

A mesa redonda sob o lema "Agrominerais - Universidade, pesquisa e estudo”, que permitiu a interacção entre responsáveis de distintas instituições do ensino superior e a plateia, produziu compromissos que prometem mudar o quadro actual e melhorar o entrosamento. 

A sexta razão (outras mais haverá…) está relacionada com a necessidade de se trabalhar de forma acelerada para retirar o maior proveito possível dos valiosos quadros que o país possui e que estão, reconhecidamente, votados à ociosidade. 

Se tudo isso for feito em prol da agricultura familiar e empresarial (de pequena, média e grande dimensão - dois dos eixos fundamentais definidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária), em pouco tempo Angola pode começar a reverter a tendência de importação de muitos dos produtos que hoje constituem a cesta básica. Deixar de importar significa deixar de depender e economizar divisas, que tanta falta fazem aos cofres do Estado.


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